• Distant Sky - O quão longe alguém pode chegar? (+16)

        Olá pessoal! Perdão pelo sumiço nos últimos 6 meses (nada demais hehe'), mas agora estou de volta e quero voltar a deixar o blog movimentado e com conteúdo com alguma frequência. Na última semana eu li (maratonei) uma webtoon/manhwa que acabei conhecendo por acaso e, surpreendentemente, a fanbase dessa obra é minúscula tanto no Brasil (um dos motivos sendo a falta da obra completamente traduzida, seja oficialmente ou por fãs) quanto lá fora.

        Particularmente, foi uma obra que me deixou preso do início ao fim durante minha leitura e eu gostei bastante, por isso decidi compartilhar.

    Aviso: Distant Sky aborda assuntos sensíveis como suicídio e possui cenas de grande violência. Caso alguma dessas coisas não seja algo que você tolere, não é recomendada a leitura da obra. Entretanto, nada visualmente grotesco será exibido neste post.

    Ficha:
    Nome: Distant Sky
    Lançamento: 2014
    Número de capítulos: 116 distribuídos entre 5 temporadas
    Autor: In-Wan Yoon
    Arte: Sun-hee Kim
    Classificação indicativa: +16
    Gêneros: Ação, Terror, Mistério, Seinen e Drama
    Nota no My Anime List: 7.86/10
    Sinopse: "
    A cidade de Gangman está completamente no escuro… Um garoto acorda e se encontra em um lugar cheio de pessoas mortas. Não há carros, eletricidade ou estrelas no céu e ele se pergunta “Sou o único que está vivo? O que está acontecendo…?"

    A webtoon
        Transmitir terror e suspense através de imagens estáticas certamente é um dos grandes desafios para artistas e mangakás que tentam se aventurar nesse gênero. Afinal, sem a ferramenta do áudio e da imagem com movimento, como é possível transmitir a tensão desejada ao leitor? O nome de Junji Ito certamente vem à mente dos fãs de mangá quando esse assunto é tocado (e espero que me perdoem por ainda não ter lido nada dele). Pois bem, em uma mídia criada para ser consumida na tela de dispositivos eletrônicos — mais precisamente celulares e tablets. Sun-hee Kim aproveita de forma inteligente a resolução e o espaço limitado para trabalhar com a escuridão. Abusa de pontos de vista que desafiam a geometria e aproveita da escuridão, inserindo silhuetas escondidas nas sombras.
        Em alguns momentos até mesmo jumpscares são utilizados e podem pegar alguns leitores desprevenidos, que acreditaram que a passagem pela escuridão será uma coisa simples e rápida.
        Esses elementos — e para mim, grandes qualidades do primeiro terço da obra — não são em nenhum momento utilizados em exagero, pelo contrário, estão lá para completar a narrativa. Nos envolver na atmosfera de uma situação apocalíptica que foge um pouco do usual do que nos acostumamos a ver em obras mais populares.
        Em Distant Sky, o perigo está em cada esquina, em cada passo que os personagens dão. Não pode fazer barulho ou os inimigos vão saber que você está ali, não pode deixar luzes ligadas de forma descuidada ou vai chamar atenção desnecessária, mas a própria escuridão é um desafio pelas coisas que se escondem nela.
        Entre um ou outro momento de respiro, a obra ainda nos mantém dentro com a sensação de que algo pode dar errado.
        Mas não é só disso que vive a obra, quando o mistério e o suspense dão lugar muitas vezes a ação e a sobrevivência, Distant Sky nos trás um pouco de como está a sociedade agora que tudo desmoronou, onde todos os recursos estão em falta e a natureza simplesmente virou as costas para a humanidade. Que tipo de decisões um grupo tomaria quando a fome está próxima de ser mortal? Quanto tempo as pessoas consideradas boas suportam antes de tomar atitudes hediondas? Em alguns momentos, certo ou errado acaba se tornando uma questão de ponto de vista.
        Muitas partes do mistério do enredo é revelado ao leitor através de flashbacks. Esses flashbacks frequentemente vem sem aviso aviso prévio de onde começam e terminam. Quando acontece das primeiras vezes, pode até ser um tanto confuso. Durante uma parte da leitura, cheguei até a questionar se alguns acontecimento eram de fato reais e se não passavam de sonhos/alucinações, mas conforme a história progride e as peças se encaixam, as cenas vistas passam a fazer sentido.
        A dupla de protagonistas Kang Haneul e Shin Heyool trazem consigo a responsabilidade de carregar essa complicada história adiante e felizmente conseguem fazê-lo de forma competente. Enquanto o rapaz é nos introduzido primeiro para nos apresentar o mundo onde a história acontece, a moça carrega consigo a experiência de estar vivendo aquela situação há mais tempo, além de ser um ano mais velha que o protagonista masculino.
        Conforme os dois avançam através das dificuldades em conjunto e em situações onde são forçados a se separar, os mistérios por trás do passado de ambos vão sendo revelados, o que faz com que a dupla estreite seus laços e formem uma parceria ainda mais forte para as adversidades que ainda estão por vir.
        E sim, eu shippo.

    Conclusão
        Distant Sky é uma obra que prende em seus mistérios, em suas situações de tensão e no relacionamento de seus personagens. Mesmo quando o tom e perspectivas mudam, a história consegue continuar caminhando bem e desenvolvendo seu mundo. A narrativa é bem ritmada e sabe bem os momentos de nos entregar suas informações. Em seu momento mais fraco a obra ainda consegue nos empurrar adiante para vir com tudo em sua intensa reta final.

    Nota: 8

  • Capítulo 11

                    A chuva chegou tão rápido quanto um Dragonite cruzando o céu a todo vapor. Poucos minutos depois da primeira gota, um “mundo d’água” caiu sobre a floresta. O trio teve que parar, pois com visibilidade e locomoção comprometidos, seria melhor esperarem o tempo abrir um pouco mais. Abrigaram-se debaixo de uma grande rocha que lhes dava cobertura o suficiente. O lugar tinha alguma elevação em relação ao solo, os deixando sobre um chão que apesar de estar úmido, não era molhado.  Aquela não era uma tempestade muito intensa, o que trazia para eles a esperança de que iriam embora logo.

                    Os três ficaram um ao lado do outro, sentados no chão com Kiri ao centro, Richard à esquerda e Neil à direita. Encaravam a chuva caindo, as gotas geladas balançando as folhas das árvores e escorrendo até o chão, deixando o solo cada vez mais encharcado. Ao longe conseguiam avistar alguns Pokémon no ar e outros à distância correndo à procura de um abrigo. Um tanto impaciente, Richard perguntou:

                    — E agora?

                    Kiri inclinou a cabeça levemente.

                    — Não sei.

                    — Fomos sortudos por acharmos esse lugar como abrigo. — Neil comentou.

                    Para a infelicidade do Starly, os trovões começaram a ecoar entre as nuvens, o corpo da pequena ave hesitou quando um clarão atravessou o céu nublado.

                    — Não gosto de trovões...

                    — Não fique com medo, Raikou não vai vir te pegar — brincou o azulado.

                    Neil estreitou os olhos e encarou o outro.

                    — Não estou com medo — destacou — e segundo, dizem que trovoes e relâmpagos vêm do bater de asas de Zapdos e não de Raikou.

                    — Impressionante, eu nem sabia disso.

                    — O Neil gosta de aprender essas coisas, mas não elogia muito se não ele fica convencido. — Kiri comentou fingindo sussurrar na última parte, observando o amigo estufar o peito.

                    Outro clarão iluminou a região, seguido de um alto estrondo. No mesmo instante Neil se encolheu em Kiri, recebendo um carinho na testa para reconfortá-lo. Richard recostou-se na rocha atrás dele, usando as patas como um apoio para a cabeça.

                    — Essa chuva vai nos atrasar em.

                    Neil voltou sua atenção para o Riolu.

                    — Sim, mas não há nada pra se preocupar. Nós devemos chegar hoje, mas teremos que passar a noite por lá.

                    — Não é tão ruim, essas coisas acontecem. — Kiri comentou com otimismo.

                    — Tem razão... — Fitou a chuva que caía incessantemente, parecia que Kyogre estava de mau humor naquele dia de verão. Ou simplesmente o grupo estava com um pouco de má sorte.

                    — Ei Richard. —Neil chamou. — Como é o lugar onde você vive, quero dizer, vivia?

                    Richard cruzou as pernas e coçou a lateral do focinho, tomando um tempo para se lembrar dos detalhes.

                    — Lá é bem populoso, muito mais do que a Vila do Oeste. As pessoas andam apressadas por todo lugar e tem construções tão grandes que se você olhar totalmente pra cima não consegue ver o topo. — Explicou enquanto fazia gestos com os braços para tentar ilustrar o que falava.

                    — Parece incrível de se ver.

                    — Não é tão incrível assim quando você olha mais de perto, mas é meu lar.

    O sorriso em seu focinho logo sumiu, seu olhar se tornou distante e nostálgico. Neil percebeu a mudança de humor e logo mudou de assunto.

    — O que achou de viver por aqui?

    — É surreal ver como as coisas funcionam na vila de vocês, a maioria dos humanos acharia aquilo impossível.

    — Tomem essa, humanos! Sem ofensa.

    O grupo se desmanchou em risadas que ao longe eram abafadas pelo som da chuva. O papo seguiu animado por algum tempo então mais tarde, quando o clima se tornou mais ameno e estável, eles decidiram que deveriam continuar a viagem ou acabariam perdendo um dia inteiro esperando o sol dar as caras. Seguiram acompanhados pelo solo úmido que às vezes chegava a ser lamacento e pela água armazenada nas folhas das árvores constantemente pingando sobre suas cabeças. Claro que Neil escapava desse incômodo por atravessar o percurso pelo ar.

    — Kiri, vem aqui! Acho que encontrei uma coisa! — Richard chamou pela amiga, apontando para algo no chão.

                    A Chikorita casualmente se aproximou e ficou ao lado do Riolu, fitando o solo molhado coberto de folhas e restos de plantas, sem entender o que Richard estava querendo lhe mostrar. Quando se virou para perguntar onde estava a tal coisa, ela viu o azulado saltar e bater em um galho que estava a alguns poucos centímetros sobre ela. O galho balançou forte, resultando em uma “mini-chuva” caindo sobre sua cabeça.

                    Rick sentou-se no chão rindo.

                    — Você caiu na pegadinha mais antiga que existe! — Ele instantaneamente parou de rir quando percebeu a expressão irritada da Pokémon do tipo grama. — Relaxa, foi uma brincadeira.

                    Kiri usou o chicote do seu Vine Whip para agarrar um galho maior que estava um pouco mais alto que o anterior e o puxou com força, fazendo praticamente o dobro de água cair sobre o Riolu. A cara fechada da Chikorita se abriu com um sorriso e gargalhadas.

                    — Isso foi trapaça.

                    — Você pediu por isso. — Piscou para ele sorrindo e correu na frente.

                    — Parem de perturbar as árvores. — Reclamou Neil, pousando em um dos galhos.

                    — Tenho certeza que elas apoiaram minha vingança — saiu saltitando enquanto cantarolava alegremente.

                    Durante a jornada o grupo passou à beira de um grande lago, era o sinal que precisavam para saber o destino final estava se aproximando. Optaram por não parar para descansar por ali, afinal logo o sol iria se por e queriam ter certeza de que haveria um teto sobre suas cabeças para poderem passar a noite.

    Pelo fim do dia eles chegaram à Caverna do Trovão, as referências que Neil tinha não deixariam ele se enganar de que estavam no local certo. Parecia ser por conta do clima não haver nenhum Pokémon do lado de fora.

    Os três se aproximaram da entrada que se abria em meio às rochas no pé de uma montanha menor. A terra batida e a pouca vegetação rasteira indicava que ali era um local onde os Pokémon circulavam com frequência. Olhando do lado de fora pouco podia se ver do interior. Lá em cima o céu estava escurecido pelas nuvens e pela despedida do sol que acontecia aos poucos no horizonte ao oeste e onde estavam.

    As orelhas caninas de Richard se mexeram.

    — Não é nada convidativo!

    — Vamos entrar. — Kiri tomou à dianteira em direção a caverna o que levou os outros dois a fazerem o mesmo.

    Poucos metros adentro parecia que seriam mergulhados em escuridão total, até que algo começou a reluzir adiante, os cristais que traziam luz para as noites da Vila do Oeste faziam o mesmo para a escuridão no interior da caverna. Um belo brilho amarelado reluzia daquele minério misterioso que Rick ainda não compreendia muito bem, mas adoraria entender como esse funciona.

    O caminho adiante se alargou o suficiente para que pelo menos Richard e Neil passassem lado a lado enquanto Kiri seguia à dianteira. Os cristais apareciam no chão, no teto e nas paredes. Cavernas emergidas em escuridão total normalmente teriam moradores capazes de enxergar no escuro ou que utilizariam de habilidades como ecolocalizaçao para se locomoverem, mas uma caverna que é sempre iluminada deve ter todo tipo de morador.

    — Está bem silencioso — comentou Neil, um tanto inseguro.

    — Podem ter tirado um cochilo nessa chuva. — Apesar da resposta, o silêncio também incomodava Kiri.

    A caverna se abriu para um salão maior, os que cristais agora concentrados em sua maioria nas paredes traziam alguma iluminação, apesar de manterem alguns lugares ainda no escuro. Entretanto não foi a falta de boa luminosidade que chamou a atenção do grupo.

    — Ah não!

    No centro do salão rochoso um Pokémon amarelo estava caído no chão. Na altura do seu peito havia detalhes em preto e Richard notou que sua cabeça lembrava um plug de tomada. Quando Neil e Kiri se aproximaram, eles notaram os claros sinais de que uma batalha havia acontecido e que o Elekid debilitado levou a pior.

    — Ele precisa de comida e descanso — concluiu Neil depois de dar uma boa olhada no Pokémon.

    — Neil! Cuidado!

    Quando o Starly se deu conta, o Riolu já havia saltado sobre ele, atingindo um Quick Attack em um Rattata que saiu das sombras para tentar um ataque surpresa. O Pokémon rato foi jogado de volta para a escuridão. Richard alertou para que seus amigos ficassem de pé.

    — Eles nos emboscaram. — O azulado colocou a bolsa ao lado do Elekid.

    O Rattata que havia sido atingido voltou a surgir do escuro acompanhado de outros Pokémon, três Voltorb chegaram saltando, uma Nidoran e alguns Plusle e Minun revelaram sua presença, eram dez ao todo. De repente o grupo se via cercado e, pela expressão das criaturas, não parecia que teriam uma saída pacífica.

    — Por que estão fazendo isso? Não somos seus inimigos! — Neil tentou conversar, mas nenhum deles parecia ter sequer ouvido.

    — A missão não incluía uma luta. — Kiri falou enquanto ela e os outros formavam uma espécie de círculo em volta do Elekid caído, com suas atenções voltadas para os inimigos.

    — Pois ela acabou de mudar... — Richard respondeu. — E estamos ferrados.

    Ninguém fez nenhum movimento nos primeiros segundos de tensão. O mesmo Rattata de antes saltou na direção de Richard que rapidamente revidou com outro Quick Attack que fez o rato ser jogado na parede da caverna. Então o Riolu ativou sua Metal Claw.

    A Nidoran tentou acertar Kiri com seu único chifre no topo da cabeça, a aura roxa emanando daquela parte de seu corpo indicava ser um Poison Sting. A Chikorita conseguiu desviar com facilidade das investidas, mas foi atingida na lateral por um SonicBoom de um dos Voltorbs que a jogou para o lado e quebrou a formação do grupo.

    — Argh!

    — Neil! Ajuda a Kiri! — Richard chamou pelo amigo enquanto tentava se defender de outro Rattata e de um par de Plusle e Minum tentava se aproximar para paralisá-lo.

    Entretanto, Neil não moveu um músculo.

    — Isso é pior que na floresta, estamos cercados, eu to em desvantagem de tipo, não da pra voar alto aqui, vamos perder... — O Starly atônito sussurrava consigo mesmo sem mal conseguir se mostrar uma ameaça para os adversários em sua frente.

    Por sorte, Kiri conseguiu superar seus adversários momentaneamente usando seu Vine Whip para arremessar a Nidoran pra cima de um Voltorb enquanto o segundo tentava efetuar um ataque que acabou atingindo sua aliada. Richard atingiu mais um golpe no segundo Rattata e correu na direção de Neil, agora pouco se importando com a formação.

                    — Se mexe! Precisamos de você! — Por impulso, Rick bateu na lateral da cabeça do Starly. Não foi nenhum ataque especial, foi simplesmente um tapa que ecoou pela caverna.

                    Forçado de volta à realidade, Neil encarou Richard e viu os inimigos se aproximando em suas costas. Ele abriu as asas e bateu forte para poder ganhar altitude, mesmo com o teto baixo.  Ele se posicionou bem o suficiente para descer em rasante e acertar um Quick Attack no Plusle e no Minum, os arremessando para trás.

                    — Boa garoto! — Sem ter tempo para comemorar, vários SonicBoom atingiram seu corpo vindo dos Voltorb que atacavam à distância e o fizeram cair no chão.

                    — Aguenta aí Rick!

                    Kiri envenenou o outro par de Plusle e Minum e os nocauteou usando seu Tackle, então ela partiu para cima dos Voltorb que atacavam Richard, mas viu seu amigo saltar à frente dela com sua perna emanando uma energia avermelhada e dar um chute em cada um dos Pokémon esféricos. Jogando um para cada lado.

                    — Isso foi um golaço! — Ele olhou para Kiri com um sorriso engraçado e recebeu como resposta apenas uma expressão confusa.

                    A Chikorita então se virou para ver como estava Neil. Quando ambos olharam encontraram-no de pé e seus adversários Plusle e Minum caídos no chão, além do terceiro Voltorb ter sido aparentemente jogado pro outro lado do salão, também inconsciente.

                    — G-Galera! — O Starly estava com alguma dificuldade para se locomover. — A-Acho que fui pa-paralisado!

                    — Acabou... — Richard sentou-se no chão, estava ofegante e suas pernas tremiam pela adrenalina correndo em suas veias.

                    Após fazerem Neil comer uma fruta Cheri para que se curasse da paralisia, Kiri usou seu Vine Whip para deixar todos os Pokémon que enfrentaram bem amarrados e garantir que quando algum deles acordar, uma nova batalha não aconteceria imediatamente. Sair da caverna não era uma opção, pois em meio ao calor do combate eles nem perceberam que a tempestade havia começado a cair intensa do lado de fora. Então apenas se afastaram de seus oponentes debilitados, trazendo o Elekid consigo. O grupo aproveitou para ter uma nova refeição e recuperar as energias.

                    Richard estava encostado á parede, encarando seus amigos do lado oposto.

                    — Ainda vamos pegar os cristais?

                    — Se pudéssemos eu iria embora agora mesmo. — Neil respondeu, dando uma leve chacoalhada quando ouviu um trovão ressoar lá fora.

                    A atenção de Kiri, entretanto, se focava no Elekid desacordado.

                    — Temos que investigar primeiro — afirmou — Se atacaram ele, então ele não deve nos atacar.

                    — Quando foi à última vez que uma equipe veio aqui? — indagou Richard — Hoje mesmo o Neil disse que os Pokémon desse lugar são pacíficos!

                    — Eu não sei — admitiu o Starly —, mas isso deve ser muito recente, a notícia de algo assim chegaria rápido até o dojo.

                    Por algum tempo eles deixaram os sons da tempestade serem os únicos presentes no interior da caverna. Rick olhou para Neil, coçou atrás da cabeça e então falou:

                    — Foi mal pelo tapa, eu agi no impulso.

                    — Tudo bem, meio que me ajudou — riu pelas narinas — eu ia te agradecer na verdade, eu fiquei assustado.

                    — Não foi nada, se você precisar de novo pode contar comigo. — Os três riram, então Richard retomou a palavra. — Se vocês quiserem dormir, eu fico de olho neles.

                    — Eu fico com você. — O bocejo nem esperou Kiri terminar de falar para chegar, arrancando uma risada do azulado.

                    — Vai dormir.

                    Sorriu e assentiu com a cabeça, logo se aconchegou o máximo que pôde no chão rochoso, Neil se juntou a ela.

    — Quando ficar com sono pode me chamar.

    — Sem problemas, boa noite.

    Antes que percebesse, seus amigos já haviam caído no sono. Richard agradeceu internamente por ter eles ao seu lado na loucura que tem sido sua vida nas últimas semanas. Então sua mente o levou para momentos antes da batalha começar, ele deveria ser capaz de sentir as auras dos Pokémon escondidos na escuridão. Entretanto seus sensores ficaram confusos e não sabiam lhe dizer ao certo se havia ou não algo que ele não estava vendo, mas felizmente conforme a quantidade aumentou ele pôde evitar que Neil fosse pego de surpresa. Ainda assim estava frustrado.

    — Se eu vacilar assim de novo, eles podem se machucar. — sussurrou para si mesmo.

    Suspirou incomodado, então focou sua atenção no caminho para o interior da caverna, tentando pensar em algo para se distrair, deixando com que a chuva fosse sua única companhia para o restante da noite.

    ...

    Gotas de água caindo sobre sua cabeça foi a primeira coisa que sentiu quando voltou a ficar consciente. O pequeno Pokémon rato estava péssimo, seu corpo estava incrivelmente cansado e dolorido e sentia suas entranhas se revirarem, causando uma sensação de mal estar muito desagradável. O pior momento foi quando tentou se mover e percebeu que não conseguia movimentar suas pequenas patas, era como se algo estivesse o prendendo. Lentamente seus olhos se abriram e sua visão foi ofuscada pela claridade do local. Quando seus olhos conseguiram se adaptar a luminosidade do ambiente, se deu conta de sua situação.

                    Seu corpo estava bem amarrado com um tipo de cipó que estava preso a algum galho mais acima, deixando-o suspenso no ar a uma pequena distância do chão. Quando olhou ao redor se deparou com três rostos nada familiares que o encaravam com expressões sérias. A esquerda um Starly, a direita um Riolu e no centro uma Chikorita.

                    — O que está acontecendo? — O Rattata juntou forças para falar.

                    — Vai falando, ratinho! — Neil tentou fazer sua melhor pose séria.

                    O Rattata franziu as sobrancelhas.

                    — Sobre o que?

                    — Sobre o ataque, ontem na caverna — completou Kiri.

                    — Que ataque? Não sei do que vocês estão falando! Vocês são malucos! Me soltem! — Ele começou a se agitar e balançar o corpo o mais forte que podia para tentar se livrar das amarras, mas não tinha energia o suficiente para tal.

                    — Não temos tempo para isso!

    Ativando o Metal Claw, Richard deu um passo adiante e fez o movimento de atacar o Rattata. O pequeno rato encolheu-se e fechou os olhos assustado, apenas para reabri-los e em seguida arregalá-los ao ver que a garra de metal parou poucos centímetros de sua cabeça.

    — Diga a verdade! — Exigiu o Riolu, sombrio.

                    — E-Eu juro! Eu não sei do que vocês estão falando! Quando eu tento me lembrar do que aconteceu antes de acordar aqui, tudo que eu me lembro é um grande breu! Não me machuquem por favor! — Suplicou por piedade.

                    O tipo normal ouviu o Riolu suspirar, e, em seguida um corte seco no ar acima dele o livrou dos cipós e o fez cair pelos poucos centímetros que o separavam do chão sem risco de se machucar. O Rattata deu uma última olhada no trio que havia feito um interrogatório consigo e correu para longe, provavelmente de volta pra caverna.

                    — Todos eles tão dizendo a mesma coisa! — Rick grunhiu em frustração. — Acho que estamos perdendo nosso tempo.

                    — Você tem razão — admitiu a Chikorita.

                    — Vou ver como o Elekid está. Quem sabe temos mais sorte.

                    Richard se afastou caminhando pelo chão úmido, castigado pela tempestade da noite anterior que deixou como herança um clima fresco e a natureza encharcada. Bastava uma brisa leve nas árvores para a água depositada em suas folhas finalmente chegar ao solo. Não muito tempo depois do sol raiar, o trio começou a trazer alguns dos Pokémon que os atacaram no dia anterior para o lado de fora com o objetivo de conseguirem informações para tentarem entender o que havia acontecido. O Rattata havia sido o quinto e ele apenas repetiu o padrão de resposta do restante: eles simplesmente não se lembravam do que aconteceu.

                    Apesar disso, não deixaram de cumprir o que lhes foi designado. A bolsa que Richard é responsável por carregar descansava pendurada em um galho de uma pequena planta próximo de onde Kiri e Neil estavam, cheia dos cristais luminosos. O Starly, que havia ficado algum tempo pensativo, soltou uma risada abafada e se virou para a amiga.

                    — Fomos atacados pelos Poochyenas, atacados na caverna, espero que isso não se torne um padrão.

                    Ela riu do comentário.

                    — Pelo menos estamos ficando mais fortes, eu me sinto mais forte.

                    Ele baixou o olhar e virou o rosto para o lado oposto dela.

                    — Sim, você é forte...

                    — Não se preocupa com o que aconteceu ontem, nós já falamos sobre isso.

                    — Sim nós já falamos, esse é o problema! Se acontecer de novo pode ser a última. — As memórias da batalha passavam por sua mente enquanto falava. — O Richard não é nem um Pokémon, tecnicamente falando, e ele lutou tão bem e foi tão focado. Queria ser como ele.

                    A expressão de Kiri se fechou em uma carranca.

                    — Não ouse ficar se comparando! — Encarava o Starly bem de perto. — Sim, você pode ter travado nessa batalha, mas você ajudou. Assim como ajudou muitas outras vezes antes! Você vai conseguir superar seu medo! E até lá eu vou estar do seu lado pra te apoiar quando precisar. Está bem? — Finalizou com um sorriso.

                    Neil tomou seu tempo para processar o sermão que recebeu, mas assentiu com a cabeça.

                    — Está bem, obrigado. — disse com confiança.

                    Quando o Riolu voltou à caverna, encontrou o Elekid sentado no chão com as costas encostadas na parede rochosa. O tipo elétrico conversava com alguns outros que pareciam ser conhecidos do mesmo, quando esses perceberam a aproximação de Richard, trocaram olhares e cochichos entre si, então deixaram o Pokémon amarelo sozinho com o azul. Rick caminhou até ficar em frente à criatura sentada, analisou-o de cima a baixo, parecia já ter recuperado boa parte de suas forças, apesar de ainda estar um pouco debilitado. Quando os dois se acostumaram com a presença um do outro, o Riolu decidiu quebrar o silêncio.

                    — Como se sente?

                    — Dolorido — admitiu, sua voz um pouco rouca —, mas bem.

                    Richard se sentou no chão em frente ao Elekid.

                    — Qual o seu nome?

                    —Sindri.

                    — Sou Richard, o que aconteceu ontem?

                    O Elekid tomou seu tempo para resgatar o máximo de detalhes do dia anterior que podia se lembrar, seus lábios se apertaram como se momentos não muito agradáveis tivessem vindo à tona.

                    — Eu saí, pouco antes da chuva, fui buscar algo pra comer antes que a tempestade viesse. No meio do caminho ela começou a cair forte e eu não tive muita escolha a não ser esperar. Quando eu voltei — Fez uma rápida pausa. — Quando eu voltei as coisas já estavam estranhas, tudo estava silencioso e eu não encontrava ninguém. Enquanto eu procurava fui atingido de surpresa, foram vários e vários ataques, então eu desmaiei.

                    “Isso explica uma parte, mas não tudo” foi o que Richard pensou em dizer, contudo, apenas guardou as palavras para si mesmo enquanto imaginava os acontecimentos em sua cabeça. Ele se levantou e estendeu a pata para ajudar Sindri.

                    — Lamento que tenha passado por tudo isso.

                    — Pelo menos vocês chegaram no tempo certo — disse evitando pisar forte com a perna direita —, não da pra prever o que poderia acontecer depois.

                    — Você não tem nenhuma ideia do que causou isso? Todos respondem que não se lembram de nada.

                    — Nenhuma — declarou com desânimo —, eles me disseram o mesmo

    — Tudo bem, obrigado por me contar o que pôde. — Richard sorriu amigável.

    — Vocês nos ajudaram muito também — retribuiu.

    — Se algo mais acontecer, mandem um pedido de socorro para a vila. Avisaremos a eles o que aconteceu aqui.

    — Entendido, eu agradeço.

    Richard acenou enquanto se distanciavam e rumou em direção a saída para se juntar aos seus amigos. Andava tentando encontrar em sua cabeça uma explicação para o que presenciaram no dia anterior, mas o quebra-cabeça tinha peças faltando e, portanto, não era possível visualizar a imagem completa.

    Já do lado de foram, ele contou aos outros o que o Elekid lhe disse. Neil suspirou ao final da história, entendendo que Rick não conseguiu muito mais do que já tinham.

    — Acho que é isso então, vamos embora.

    Kiri, que esteve reflexiva durante a explicação, enfim falou.

    — Algo ainda não está certo. Mas não sei dizer o que é.

    — Eu também tenho esse sentimento, mas não temos o que fazer. — Rick disse em seguida. — É melhor irmos e relatar tudo para a Ciara.

    Todos concordaram com a sugestão, então o grupo dividiu algumas tarefas entre si para se prepararem para a jornada de retorno. Richard foi conferir se estava tudo certo na bolsa, Kiri foi procurar comida e Neil levantou vôo para verificar se o caminho de volta estava bom para seguir, considerando a tempestade da noite anterior.

    Após ficarem prontos, tomaram a direção do caminho de volta. Sua missão podia ter terminado, mas o mistério persistia.

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  • Capítulo 10

     

                    O chão chacoalhou sob as patas de Richard. Não era como da primeira vez dias atrás, era mais intenso. Por sorte estava em uma área aberta da Vila e não tinha nada que poderia cair nele, ainda assim, entretanto, perdeu o equilíbrio e se viu caindo sentado no chão. Vários Pokémon ao redor dele passaram pelo mesmo. Alguns caíram no chão, mas os que podiam flutuaram pelo ar, usando de poderes únicos a cada qual. Richard sentia como se o mundo estivesse tremendo, o barulho que vinha das camadas mais profundas da terra fazia parecer que o chão fosse se abrir a qualquer minuto, apesar disso não ter acontecido.

    Quando o terremoto finalmente passou ele não desmaiou, mas permaneceu sentado encarando o nada, sentindo seu coração pular como se quisesse sair de seu corpo. Richard respirou devagar até sua pulsação baixar e se achar em condições suficientes para se colocar de pé. Quando levantou, o mundo a sua volta que antes parecia ter ficado quieto voltou a ter som. Olhou os Pokémon lentamente voltando a sua rotina, mas claramente assustados. Não era como se houvesse outra maneira de ficar depois do que haviam presenciado.

    — Está ficando pior. —ele ouviu alguns comentários.

    — Se isso continuar sendo um problema, talvez devêssemos viver em uma região mais distante.

    — Será que podemos continuar criando as crianças aqui?

    — Eu disse que aquele Riolu era sinal de azar.

    — Não diga isso! — alguém o defendeu. — E ele pode nos ouvir… — sussurrou ao fim, entretanto.

                    Richard baixou o olhar e não ousou se virar na direção de onde vinham as vozes. Logo o azulado ouviu uma outra voz muito próxima a ele.

                    — Você tá bem?

                    A surpresa o fez dar um pequeno salto para o lado, mas então percebeu que eram apenas Kiri e Neil que o olhavam preocupados. Richard não estava junto dos outros dois quando tudo aquilo começou e nem havia notado quando os amigos se aproximaram dele.

                    — Ah... S-Sim. —respondeu um tanto inseguro.

                    — Como você desmaiou da última vez, achamos que poderia ocorrer novamente. — Neil falou. — Mas como te achamos acordado, creio que já é um progresso.

                    Richard levantou uma sobrancelha e riu.

                    — Com certeza. Obrigado por se preocuparem.

                    — Nós ouvimos... Você sabe. — Kiri olhou-o um tanto preocupada. — Está bem mesmo?

                    Ele confirmou com a cabeça.

                    — Não se preocupem com isso. — Rapidamente mudou o assunto. — E aí, conseguiram aquela coisa?

                    — Sim. — Kiri segurava algo com seus cipós em suas costas ao qual ela puxou e mostrou para o Riolu. Uma bolsa de pano com duas alças para os braços. Richard foi o escolhido para carregar a mesma já que ele era bípede e fisicamente mais forte, teria menos trabalho para levar a carga da equipe.

                    — Parece bom o suficiente. — pegou e colocou em suas costas, o Riolu percebeu que já haviam algumas coisas lá dentro. Provavelmente Kiri e Neil prepararam o que necessário para a próxima viagem. — A não ser que a gente queira carregar algo grande, eu acho que vai servir.

                    — Se aguentou no armazém, isso daí não vai ser nada. — Neil falou.

                    — Então, pra onde vamos?

                    — A gente vai na Caverna do Trovão buscar algumas pedras e voltar.

                    — E é perigoso?

                    — Não, os Pokémon de lá não são hostis com visitantes e o caminho não é perigoso. O único problema é que a viagem vai ser um pouco longa.

                    — Então pegamos uma missão chata?

                    Neil confirmou com a cabeça.

                    — Acho que a Ciara não queria que a gente se metesse em perigo de novo depois do que aconteceu com os Poochyenas.

                    Já haviam se passado alguns dias desde que Kiri e Neil voltaram daquela missão. Depois que os dois contaram o que havia acontecido, Richard ficou em uma mistura de empolgação e medo. Não que quisesse ser atacado no meio da floresta, mas o pensamento de ter uma batalha de verdade o empolgava. Talvez fosse o sangue de tipo Lutador correndo pelas suas veias, não tinha certeza.

                    — E é quanto tempo de viagem mesmo?

                    — Com paradas pra descansar e tudo mais a gente chega no meio da tarde, coleta as pedras, dormimos por lá e voltamos pra cá perto do pôr do sol do dia seguinte.

                    — Pelo menos teremos a aventura e um ao outro para nos entreter. — Kiri tentou animar o grupo. Não obteve muita empolgação como resposta. — Não se esqueçam que toda missão importa.

                    Richard e Neil deram de ombros. Então a Chikorita e o Starly decidiram ir para suas casas para se prepararem enquanto Richard disse que tinha algo que queria fazer antes de irem. Este por tal deixou a bolsa com Kiri para ela colocar o que achasse necessário ali. Os três combinaram de se encontrar na saída leste da vila já prontos para seguirem viagem em um certo horário.

    ...

    Quando Kiri e Neil chegaram no local e hora marcados, Richard já estava os esperando. O azulado os avistou e sorriu, suas patas escondidas nas suas costas.

                    — O que você tem aí? — Kiri falou curiosa.

                    — Fechem os olhos. — ordenou, e os dois ouvintes sem questionarem muito obedeceram.

                    Primeiro Kiri sentiu algo sendo colocado ao redor do seu pescoço, até sentiu um pouco de cócegas com o que quer que seja que Richard esteja fazendo. Depois que ele acabou foi a vez de Neil passar pelo mesmo, os segundos foram se passando, Richard se posicionou em frente a eles e falou.

                    — Podem abrir.

                    Eles o fizeram e olharam para seus próprios pescoços. Neles havia uma espécie de tecido vermelho amarrado, era algo como um cachecol, um lenço ou uma bandana, não sabiam dizer. A de Kiri era um pouco maior que a de Neil por conta de seus tamanhos serem diferentes. A Chikorita olhou para o Riolu e percebeu que ele também estava usando uma.

                    — Eu pensei que seria legal se a gente tivesse a nossa própria marca ou algo assim... E eu acho que a gente parece mais um grupo de aventureiros desse jeito. — Richard torcia internamente para que não tivessem detestado. Kiri e Neil se viraram um pro outro.

                    — Ficou bom? — O Starly falou.

                    — Você parece uma pequena, mas corajosa ave. — Ela riu. — E eu?

                    — Ficou legal, nem parece que você é Prata.

                    — Você é prata também. — inflou as bochechas.

                    Richard gargalhou com a pequena discussão, então os amigos olharam-no.

                    — Que bom que gostaram! Vocês me deram a insígnia então eu queria dar algo pra vocês também.

                    — Não precisa nos dar nada, mas obrigada!

                    — Podemos ser a Equipe da Bandana Vermelha. — Neil sugeriu.

                    — Muito grande. — Richard coçou o queixo, tentando reorganizar as palavras semelhantes de uma forma que não ficasse estranho.

                    — Não precisamos ficar quebrando a cabeça com isso agora, vamos!

                    O trio enfim partiu. Após deixar os limites da vila eles se dirigiram para o norte, a direção onde ficava seu destino. Richard perguntou para Neil como ele era tão bom em orientar a si e aos outros. Depois de uma longa explicação sobre mapas, posição do sol,  direção do vendo e pontos de referência no ambiente ele desistiu de tentar entender por enquanto.

                    — O Neil é meu guia. — Kiri falou. — Sem ele acho que eu nem teria voltado pra casa de nossa primeira missão.

                    — Agora é nosso guia.

                    Ele pode ver o Starly pondo uma expressão orgulhosa em seu rosto antes de bater as asas e levantar voo, se tornando apenas uma mancha ao longe no céu azul. Enquanto isso Kiri explicava que o caminho possuía uma parte de planície, uma de floresta e quando chegassem a um lago seria o sinal de que estavam próximos da caverna. A manhã estava ensolarada, mas não dispunha de um calor intenso, a expectativa é que pudessem chegar ao trecho de floresta antes do sol ficar a pino.

                    — Você ficou com medo? — Richard puxou assunto, olhando apenas para o caminho que seguiam. — Quando encontrou o Mightyena.

                    — Claro! Eu estava sozinha ao lado de uma Pokémon mais velha contra um oponente que era mais forte que nós.

                    — Você pensou que talvez... Pudesse não voltar pra casa?

                    A Chikorita ficou quieta por algum tempo, Richard considerou que talvez estivesse sendo indelicado demais, mas antes que pudesse retirar a pergunta Kiri respondeu:

                    — Quero dizer... Eu tentei ter o máximo de forças que dava pra ter naquele momento, mas... — ela fez uma pausa. — Se a Ciara não tivesse aparecido, não sei o que poderia ter acontecido com a gente.

                    Foi a vez do azulado ficar em silêncio.

                    — Desculpa... Acho que não devia ter tocado nesse assunto.

                    — Tudo bem... — ela sorriu de canto de boca. — Pelo menos temos uma boa história pra contar.

                    — Como consegue ser tão positiva?

                    — O primeiro passo pra conseguir alguma coisa é acreditar que vai, não é? Por isso eu tento pensar dessa forma.

                    — Entendo... Eu não devo ser o primeiro que te faz essa pergunta.

                    — Na verdade é sim.

                    — Acho que Pokémons tem uma vida que permite que eles sejam mais positivos.

                    Ela fez um olhar confuso.

                    — Como assim?

                    — Do que estão falando? — Neil desceu e se aproximou antes que Richard pudesse responder, planava a poucos metros acima dos dois no solo.

                    — Só bobagem pra passar o tempo. —desconversou o Riolu.

                    — Ei Richard, o lugar onde os Riolus moram é muito diferente da nossa vila?

                    — Por que a pergunta?

                    — É que você sempre ficava tão impressionado com tudo que via ali, daí eu queria saber. —riu. — Até parecia um pouco sem noção.

                    — Eu só não estava acostumado... —ele olhou para Kiri tentando inventar alguma coisa, e ela percebendo respondeu com um “fala logo” silencioso.

                    — Não tem uma vila lá também?

                    Onde eu morava a gente tem sim... —ele coçou o lado da cabeça. — Mas não era desse jeito... Não tinham tantos pokémons.

                    O Starly pousou poucos passos à frente, os outros dois pararam de andar.

                    — Como assim?

                    — O que tinha mais por lá eram humanos.

                    — Você conheceu humanos? Mas você não mora do outro lado do grande oceano?

                    — Na verdade não... Onde eu morava era a cidade dos humanos. — Richard pouco sabia onde exatamente ficava o “grande oceano” e muito menos ainda onde era o outro lado dele.

                    Neil arregalou os olhos.

                    — VOCÊ É DE ESTIMAÇÃO?!

                    — O que? Não! — negou veemente com a cabeça. — Não... Eu vivia na cidade dos humanos porque eu era um humano.

                    A ave fez uma expressão confusa, alternou o olhar entre Richard e Kiri que apenas ouvia a conversa dos dois para saber que aquilo não se tratava de uma pegadinha.

                    — To esperando o fim da piada.

                    — Não é piada, o motivo de tudo nesse lugar ser surreal pra mim é que o lugar de onde eu vim é totalmente diferente. Eu nunca vi Pokémons que falassem minha língua, ou que construíram uma vila para morarem juntos.

                    — Você acredita nisso? — Ele olhou para Kiri, que assentiu com a cabeça. — Meu Arceus... Eu preciso de um tempo pra digerir isso.

                    Neil abriu as asas e rapidamente buscou ficar a uma distância considerável dos outros dois.

                    — Está tudo bem com ele? Não achei que fosse surtar. — O azulado perguntou Kiri enquanto observava a mancha cinza no fundo azul que Neil novamente havia se tornado.

                    — Ele não surtou, ele só... Ficou muito surpreso ao ponto de precisar se afastar e pensar sobre isso sozinho.

                    — Então ele surtou. — estreitou os olhos enquanto a Chikorita deu de ombros e sorriu.

                    — Relaxa, no máximo ele vai te encher de perguntas depois.

                    — Espero não “Starly” dando um choque.

                    —...

                    —... Na minha mente soava melhor.

                    Para a surpresa de Richard, a Chikorita deu gargalhadas espontâneas.

                    — Foi tão ruim que foi boa. — brincou — Vamos.

                    A viagem então seguiu com Neil os acompanhando de cima. Richard não fazia ideia do que diabos o Starly estava pensando em relação a ele, mas decidiu escutar o conselho de Kiri e não encher muito sua cabeça com isso. A sequência foi um pouco mais quieta e entediante, eles andaram por aproximadamente uma hora e então fizeram uma pausa para descansar. Escolheram um bom local perto de uma árvore que fazia uma sombra consideravelmente grande. Richard fez um sinal para Neil do solo esperando que ele viesse para junto deles. Então o Riolu tirou a bolsa das costas, colocou-a no chão e se sentou. Então notou a Chikorita deitada sob o sol.

                    — Não devia descansar na sombra?

                    — Eu preciso deixar minha folha pegando sol de vez em quando.

                    — A gente já pegou bastante sol até agora.

                    — Mas eu tava andando e gastando energia.

                    — Se você diz.

                    — Não seja impaciente, sinta!

                    Kiri balançou levemente a folha no topo de sua cabeça, e Richard então fungou o ar e sentiu um leve aroma, bastante agradável e até um tanto tranquilizante.

                    — Nossa, Não sabia que podia fazer isso!

    Ela sorriu e logo em seguida Neil pousou entre os dois.

                    — Ta tudo bem Neil? — Kiri perguntou.

                    — Sim. —ele se virou para Richard e se aproximou, o Riolu recuou a cabeça. — Quando voltarmos pra casa quero te levar a um lugar.

                    — Que lugar?

                    — Um lugar.

                    — Vai me nocautear e jogar do penhasco?

                    — Que horror, não! Só quero que você conheça uma pessoa.

                    — Que pessoa?

                    — Você é muito curioso.

                    — Ok... Quer comer?

                    — Quero.

                    A refeição do trio foi num clima muito mais leve do que acreditavam que seria. Talvez fosse a fragrância da folha de Kiri que os deixavam um pouco mais relaxados. Richard se perguntou se aquilo fora proposital. Independente disso eles conversaram e riram de bobagens aleatórias jogadas aqui e ali em suas conversas.

                    — Então, você é um humano mesmo? — O Starly encarou-o.

                    — Eu era, na verdade deveria ser nesse momento.

                    — Prove.

                    — Como?

                    — Sei lá, faça coisas de humano!

                    Richard riu.

                    — O que seriam coisas de humano?

                    — Sei lá, você devia saber, você é humano! — riu também, então sua expressão ficou séria e seu olhar ficou distante. — Está mais longe de casa do que eu pensava, não é?

                    — Sim...

                    — Eu sinto muito.

                    — Não sinta, eu vou encontrar um jeito de voltar. — Ele colocou a pata nas costas da ave, acariciando de leve. — Se eu vim, deve dar pra voltar, né?

                    — Talvez. Mas e se não der?

                    — Eu não tinha pensado sobre isso. — Na verdade Richard tinha pensado sobre isso, mas a ideia de não poder voltar nunca mais o assustava. Baixou o olhar, contemplativo.

                    — Se não der... — Kiri puxou a atenção dos dois para ela. —Estaremos com você. Podemos não ser sua casa ou sua família, mas vamos te dar apoio.

                    — Infelizmente ela está certa.

                    — Vocês são legais demais. — Richard falou em seguida, sorrindo. — E se eu fosse alguém ruim?

                    — Te daríamos uma surra até ficar bom.

                    O ex-humano não pode conter as gargalhadas.

                    — Acho que é pra isso que os amigos servem.

                    Nesse momento perceberam que já haviam conversado por tempo demais, então eles arrumaram tudo e continuaram sua viagem, agora de humor revigorado.

                    O sol ia se aproximando da posição mais alta no céu quando finalmente avistaram o trecho de floresta ao longe. Segundo Kiri, essa floresta era habitada por várias diferentes espécies de Pokémon, mas estes já eram habituados com a passagem dos viajantes e não havia relatos de comportamento hostil recente. Quando ficaram sob a sombra das árvores o grupo se sentiu um tanto aliviado. Eles viram Butterfree’s polinizando e Hoppip’s flutuando por entre as árvores. Richard até avistou um grupo de Slakoth pendurado em uma árvore grande, nenhum deles parecia se mover o que era realmente intrigante. Fora os Pokémons que conseguiram avistar, os sons que a natureza emitia ao redor do trio indicava o quão vivo estava aquele ecossistema.

                    — Quanto tempo mais? — Richard sentou recostando-se numa pedra e suspirou aliviado por conta do pequeno e merecido descanso que pararam para ter. A Chikorita sentou no chão na frente dele.

                    — Estamos avançando num ritmo bom, só mais algumas horas e estaremos lá. — O tipo voador havia pousado em um galho poucos metros acima da cabeça do Riolu. — Mas eu percebi umas nuvens mais escuras surgindo no céu, o tempo ta fechando. — destacou.

                    — Isso vai acabar nos atrasando. — A esverdeada olhava para o céu que pouco se mostrava entre as árvores, mas desse pouco boa parte já assumia uma cor mais acinzentada mesmo enquanto o sol ainda não estava coberto pelas nuvens.

                    — Podemos andar o quanto der e procurar um abrigo caso chova. — Richard se levantou novamente. — Melhor nos apressarmos.

                    Os outros concordaram e se colocaram de prontidão para continuar seguindo em frente.

    ...

                    Os olhos já habituados a escuridão do Pokémon tipo sombrio não tiveram dificuldades para se adaptar a baixa luminosidade quando esses se abriram. Se encontrava em uma caverna a qual não tinha a mínima noção de onde era e sua última lembrança era a batalha contra aquela Absol. Como ele sentia raiva daquela Absol por nocautear seus irmãos e humilhá-lo na frente daqueles pirralhos. Não tinha dúvidas de que era um Mightyena forte, mas ele não teve a mínima chance contra aquela Pokémon.

                    A hiena passou um olhar rápido pelo seu corpo fazendo uma auto-avaliação. Não estava ferido e não sentia nada doer, talvez eles trouxeram-no para algum lugar de onde não conseguiria sair? Seria uma grande hipocrisia, visto o quanto os moradores da Vila do Oeste se fazem de altruístas com aquelas Equipes de Resgate, também tinha raiva deles. Quando levantou a cabeça para a única direção em que a caverna continuava, ela estava lá. Seus olhos vermelhos reluzentes na escuridão o fizeram recuar.

                    — O que você quer de mim?

                    — Algumas respostas.

                    — E por que acha que eu te daria alguma resposta depois do que aconteceu?

                    — Eu estava defendendo os meus e você os seus, não precisamos odiar um ao outro por conta disso. Não acha?

                    A Absol tinha um ponto, mesmo Nacht não querendo admitir. Ele se desviou do assunto.

                    — Onde estão os outros?

                    — Estão bem. Que gentil da sua parte se preocupar com eles.

                    — Cuide da sua vida!

                    — Eu entendo, família é importante. — Ela sentou-se no chão. — Agora responda; O que fazem por essa região? Não costumamos ter pokémons tão hostis por aqui.

                    — As coisas ficaram complicadas por lá.

                    Ciara levantou uma sobrancelha.

                    — Como assim?

                    — Estamos acostumados no alto norte a ter que lutar para sobreviver. Mas apareceu um grupo bem agressivo.

                    — Agressivos como vocês?

                    — Dá um tempo. — rosnou. — Fazemos o que fazemos por que temos que fazer. Você que vive no lugar onde vive nunca entenderia, o mundo não é colorido e brilhante. Enfim, esse novo grupo começou a atacar os menores e perturbar o mínimo de ordem que existia. Eles são fortes e por isso muitos os seguiram. Então eu chamei os rapazes e saímos de lá antes que viessem atrás de nós.

                    — Isso é tudo?

                    — Sim, agora me deixe ir embora daqui.

                    —Não parece tão valentão agora. —riu enquanto se levantava. — Vou te levar até os outros, não faça nada estúpido ou nunca mais vai sair daqui, ok?

    ...


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