• quarta-feira, julho 28, 2021

                    A chuva chegou tão rápido quanto um Dragonite cruzando o céu a todo vapor. Poucos minutos depois da primeira gota, um “mundo d’água” caiu sobre a floresta. O trio teve que parar, pois com visibilidade e locomoção comprometidos, seria melhor esperarem o tempo abrir um pouco mais. Abrigaram-se debaixo de uma grande rocha que lhes dava cobertura o suficiente. O lugar tinha alguma elevação em relação ao solo, os deixando sobre um chão que apesar de estar úmido, não era molhado.  Aquela não era uma tempestade muito intensa, o que trazia para eles a esperança de que iriam embora logo.

                    Os três ficaram um ao lado do outro, sentados no chão com Kiri ao centro, Richard à esquerda e Neil à direita. Encaravam a chuva caindo, as gotas geladas balançando as folhas das árvores e escorrendo até o chão, deixando o solo cada vez mais encharcado. Ao longe conseguiam avistar alguns Pokémon no ar e outros à distância correndo à procura de um abrigo. Um tanto impaciente, Richard perguntou:

                    — E agora?

                    Kiri inclinou a cabeça levemente.

                    — Não sei.

                    — Fomos sortudos por acharmos esse lugar como abrigo. — Neil comentou.

                    Para a infelicidade do Starly, os trovões começaram a ecoar entre as nuvens, o corpo da pequena ave hesitou quando um clarão atravessou o céu nublado.

                    — Não gosto de trovões...

                    — Não fique com medo, Raikou não vai vir te pegar — brincou o azulado.

                    Neil estreitou os olhos e encarou o outro.

                    — Não estou com medo — destacou — e segundo, dizem que trovoes e relâmpagos vêm do bater de asas de Zapdos e não de Raikou.

                    — Impressionante, eu nem sabia disso.

                    — O Neil gosta de aprender essas coisas, mas não elogia muito se não ele fica convencido. — Kiri comentou fingindo sussurrar na última parte, observando o amigo estufar o peito.

                    Outro clarão iluminou a região, seguido de um alto estrondo. No mesmo instante Neil se encolheu em Kiri, recebendo um carinho na testa para reconfortá-lo. Richard recostou-se na rocha atrás dele, usando as patas como um apoio para a cabeça.

                    — Essa chuva vai nos atrasar em.

                    Neil voltou sua atenção para o Riolu.

                    — Sim, mas não há nada pra se preocupar. Nós devemos chegar hoje, mas teremos que passar a noite por lá.

                    — Não é tão ruim, essas coisas acontecem. — Kiri comentou com otimismo.

                    — Tem razão... — Fitou a chuva que caía incessantemente, parecia que Kyogre estava de mau humor naquele dia de verão. Ou simplesmente o grupo estava com um pouco de má sorte.

                    — Ei Richard. —Neil chamou. — Como é o lugar onde você vive, quero dizer, vivia?

                    Richard cruzou as pernas e coçou a lateral do focinho, tomando um tempo para se lembrar dos detalhes.

                    — Lá é bem populoso, muito mais do que a Vila do Oeste. As pessoas andam apressadas por todo lugar e tem construções tão grandes que se você olhar totalmente pra cima não consegue ver o topo. — Explicou enquanto fazia gestos com os braços para tentar ilustrar o que falava.

                    — Parece incrível de se ver.

                    — Não é tão incrível assim quando você olha mais de perto, mas é meu lar.

    O sorriso em seu focinho logo sumiu, seu olhar se tornou distante e nostálgico. Neil percebeu a mudança de humor e logo mudou de assunto.

    — O que achou de viver por aqui?

    — É surreal ver como as coisas funcionam na vila de vocês, a maioria dos humanos acharia aquilo impossível.

    — Tomem essa, humanos! Sem ofensa.

    O grupo se desmanchou em risadas que ao longe eram abafadas pelo som da chuva. O papo seguiu animado por algum tempo então mais tarde, quando o clima se tornou mais ameno e estável, eles decidiram que deveriam continuar a viagem ou acabariam perdendo um dia inteiro esperando o sol dar as caras. Seguiram acompanhados pelo solo úmido que às vezes chegava a ser lamacento e pela água armazenada nas folhas das árvores constantemente pingando sobre suas cabeças. Claro que Neil escapava desse incômodo por atravessar o percurso pelo ar.

    — Kiri, vem aqui! Acho que encontrei uma coisa! — Richard chamou pela amiga, apontando para algo no chão.

                    A Chikorita casualmente se aproximou e ficou ao lado do Riolu, fitando o solo molhado coberto de folhas e restos de plantas, sem entender o que Richard estava querendo lhe mostrar. Quando se virou para perguntar onde estava a tal coisa, ela viu o azulado saltar e bater em um galho que estava a alguns poucos centímetros sobre ela. O galho balançou forte, resultando em uma “mini-chuva” caindo sobre sua cabeça.

                    Rick sentou-se no chão rindo.

                    — Você caiu na pegadinha mais antiga que existe! — Ele instantaneamente parou de rir quando percebeu a expressão irritada da Pokémon do tipo grama. — Relaxa, foi uma brincadeira.

                    Kiri usou o chicote do seu Vine Whip para agarrar um galho maior que estava um pouco mais alto que o anterior e o puxou com força, fazendo praticamente o dobro de água cair sobre o Riolu. A cara fechada da Chikorita se abriu com um sorriso e gargalhadas.

                    — Isso foi trapaça.

                    — Você pediu por isso. — Piscou para ele sorrindo e correu na frente.

                    — Parem de perturbar as árvores. — Reclamou Neil, pousando em um dos galhos.

                    — Tenho certeza que elas apoiaram minha vingança — saiu saltitando enquanto cantarolava alegremente.

                    Durante a jornada o grupo passou à beira de um grande lago, era o sinal que precisavam para saber o destino final estava se aproximando. Optaram por não parar para descansar por ali, afinal logo o sol iria se por e queriam ter certeza de que haveria um teto sobre suas cabeças para poderem passar a noite.

    Pelo fim do dia eles chegaram à Caverna do Trovão, as referências que Neil tinha não deixariam ele se enganar de que estavam no local certo. Parecia ser por conta do clima não haver nenhum Pokémon do lado de fora.

    Os três se aproximaram da entrada que se abria em meio às rochas no pé de uma montanha menor. A terra batida e a pouca vegetação rasteira indicava que ali era um local onde os Pokémon circulavam com frequência. Olhando do lado de fora pouco podia se ver do interior. Lá em cima o céu estava escurecido pelas nuvens e pela despedida do sol que acontecia aos poucos no horizonte ao oeste e onde estavam.

    As orelhas caninas de Richard se mexeram.

    — Não é nada convidativo!

    — Vamos entrar. — Kiri tomou à dianteira em direção a caverna o que levou os outros dois a fazerem o mesmo.

    Poucos metros adentro parecia que seriam mergulhados em escuridão total, até que algo começou a reluzir adiante, os cristais que traziam luz para as noites da Vila do Oeste faziam o mesmo para a escuridão no interior da caverna. Um belo brilho amarelado reluzia daquele minério misterioso que Rick ainda não compreendia muito bem, mas adoraria entender como esse funciona.

    O caminho adiante se alargou o suficiente para que pelo menos Richard e Neil passassem lado a lado enquanto Kiri seguia à dianteira. Os cristais apareciam no chão, no teto e nas paredes. Cavernas emergidas em escuridão total normalmente teriam moradores capazes de enxergar no escuro ou que utilizariam de habilidades como ecolocalizaçao para se locomoverem, mas uma caverna que é sempre iluminada deve ter todo tipo de morador.

    — Está bem silencioso — comentou Neil, um tanto inseguro.

    — Podem ter tirado um cochilo nessa chuva. — Apesar da resposta, o silêncio também incomodava Kiri.

    A caverna se abriu para um salão maior, os que cristais agora concentrados em sua maioria nas paredes traziam alguma iluminação, apesar de manterem alguns lugares ainda no escuro. Entretanto não foi a falta de boa luminosidade que chamou a atenção do grupo.

    — Ah não!

    No centro do salão rochoso um Pokémon amarelo estava caído no chão. Na altura do seu peito havia detalhes em preto e Richard notou que sua cabeça lembrava um plug de tomada. Quando Neil e Kiri se aproximaram, eles notaram os claros sinais de que uma batalha havia acontecido e que o Elekid debilitado levou a pior.

    — Ele precisa de comida e descanso — concluiu Neil depois de dar uma boa olhada no Pokémon.

    — Neil! Cuidado!

    Quando o Starly se deu conta, o Riolu já havia saltado sobre ele, atingindo um Quick Attack em um Rattata que saiu das sombras para tentar um ataque surpresa. O Pokémon rato foi jogado de volta para a escuridão. Richard alertou para que seus amigos ficassem de pé.

    — Eles nos emboscaram. — O azulado colocou a bolsa ao lado do Elekid.

    O Rattata que havia sido atingido voltou a surgir do escuro acompanhado de outros Pokémon, três Voltorb chegaram saltando, uma Nidoran e alguns Plusle e Minun revelaram sua presença, eram dez ao todo. De repente o grupo se via cercado e, pela expressão das criaturas, não parecia que teriam uma saída pacífica.

    — Por que estão fazendo isso? Não somos seus inimigos! — Neil tentou conversar, mas nenhum deles parecia ter sequer ouvido.

    — A missão não incluía uma luta. — Kiri falou enquanto ela e os outros formavam uma espécie de círculo em volta do Elekid caído, com suas atenções voltadas para os inimigos.

    — Pois ela acabou de mudar... — Richard respondeu. — E estamos ferrados.

    Ninguém fez nenhum movimento nos primeiros segundos de tensão. O mesmo Rattata de antes saltou na direção de Richard que rapidamente revidou com outro Quick Attack que fez o rato ser jogado na parede da caverna. Então o Riolu ativou sua Metal Claw.

    A Nidoran tentou acertar Kiri com seu único chifre no topo da cabeça, a aura roxa emanando daquela parte de seu corpo indicava ser um Poison Sting. A Chikorita conseguiu desviar com facilidade das investidas, mas foi atingida na lateral por um SonicBoom de um dos Voltorbs que a jogou para o lado e quebrou a formação do grupo.

    — Argh!

    — Neil! Ajuda a Kiri! — Richard chamou pelo amigo enquanto tentava se defender de outro Rattata e de um par de Plusle e Minum tentava se aproximar para paralisá-lo.

    Entretanto, Neil não moveu um músculo.

    — Isso é pior que na floresta, estamos cercados, eu to em desvantagem de tipo, não da pra voar alto aqui, vamos perder... — O Starly atônito sussurrava consigo mesmo sem mal conseguir se mostrar uma ameaça para os adversários em sua frente.

    Por sorte, Kiri conseguiu superar seus adversários momentaneamente usando seu Vine Whip para arremessar a Nidoran pra cima de um Voltorb enquanto o segundo tentava efetuar um ataque que acabou atingindo sua aliada. Richard atingiu mais um golpe no segundo Rattata e correu na direção de Neil, agora pouco se importando com a formação.

                    — Se mexe! Precisamos de você! — Por impulso, Rick bateu na lateral da cabeça do Starly. Não foi nenhum ataque especial, foi simplesmente um tapa que ecoou pela caverna.

                    Forçado de volta à realidade, Neil encarou Richard e viu os inimigos se aproximando em suas costas. Ele abriu as asas e bateu forte para poder ganhar altitude, mesmo com o teto baixo.  Ele se posicionou bem o suficiente para descer em rasante e acertar um Quick Attack no Plusle e no Minum, os arremessando para trás.

                    — Boa garoto! — Sem ter tempo para comemorar, vários SonicBoom atingiram seu corpo vindo dos Voltorb que atacavam à distância e o fizeram cair no chão.

                    — Aguenta aí Rick!

                    Kiri envenenou o outro par de Plusle e Minum e os nocauteou usando seu Tackle, então ela partiu para cima dos Voltorb que atacavam Richard, mas viu seu amigo saltar à frente dela com sua perna emanando uma energia avermelhada e dar um chute em cada um dos Pokémon esféricos. Jogando um para cada lado.

                    — Isso foi um golaço! — Ele olhou para Kiri com um sorriso engraçado e recebeu como resposta apenas uma expressão confusa.

                    A Chikorita então se virou para ver como estava Neil. Quando ambos olharam encontraram-no de pé e seus adversários Plusle e Minum caídos no chão, além do terceiro Voltorb ter sido aparentemente jogado pro outro lado do salão, também inconsciente.

                    — G-Galera! — O Starly estava com alguma dificuldade para se locomover. — A-Acho que fui pa-paralisado!

                    — Acabou... — Richard sentou-se no chão, estava ofegante e suas pernas tremiam pela adrenalina correndo em suas veias.

                    Após fazerem Neil comer uma fruta Cheri para que se curasse da paralisia, Kiri usou seu Vine Whip para deixar todos os Pokémon que enfrentaram bem amarrados e garantir que quando algum deles acordar, uma nova batalha não aconteceria imediatamente. Sair da caverna não era uma opção, pois em meio ao calor do combate eles nem perceberam que a tempestade havia começado a cair intensa do lado de fora. Então apenas se afastaram de seus oponentes debilitados, trazendo o Elekid consigo. O grupo aproveitou para ter uma nova refeição e recuperar as energias.

                    Richard estava encostado á parede, encarando seus amigos do lado oposto.

                    — Ainda vamos pegar os cristais?

                    — Se pudéssemos eu iria embora agora mesmo. — Neil respondeu, dando uma leve chacoalhada quando ouviu um trovão ressoar lá fora.

                    A atenção de Kiri, entretanto, se focava no Elekid desacordado.

                    — Temos que investigar primeiro — afirmou — Se atacaram ele, então ele não deve nos atacar.

                    — Quando foi à última vez que uma equipe veio aqui? — indagou Richard — Hoje mesmo o Neil disse que os Pokémon desse lugar são pacíficos!

                    — Eu não sei — admitiu o Starly —, mas isso deve ser muito recente, a notícia de algo assim chegaria rápido até o dojo.

                    Por algum tempo eles deixaram os sons da tempestade serem os únicos presentes no interior da caverna. Rick olhou para Neil, coçou atrás da cabeça e então falou:

                    — Foi mal pelo tapa, eu agi no impulso.

                    — Tudo bem, meio que me ajudou — riu pelas narinas — eu ia te agradecer na verdade, eu fiquei assustado.

                    — Não foi nada, se você precisar de novo pode contar comigo. — Os três riram, então Richard retomou a palavra. — Se vocês quiserem dormir, eu fico de olho neles.

                    — Eu fico com você. — O bocejo nem esperou Kiri terminar de falar para chegar, arrancando uma risada do azulado.

                    — Vai dormir.

                    Sorriu e assentiu com a cabeça, logo se aconchegou o máximo que pôde no chão rochoso, Neil se juntou a ela.

    — Quando ficar com sono pode me chamar.

    — Sem problemas, boa noite.

    Antes que percebesse, seus amigos já haviam caído no sono. Richard agradeceu internamente por ter eles ao seu lado na loucura que tem sido sua vida nas últimas semanas. Então sua mente o levou para momentos antes da batalha começar, ele deveria ser capaz de sentir as auras dos Pokémon escondidos na escuridão. Entretanto seus sensores ficaram confusos e não sabiam lhe dizer ao certo se havia ou não algo que ele não estava vendo, mas felizmente conforme a quantidade aumentou ele pôde evitar que Neil fosse pego de surpresa. Ainda assim estava frustrado.

    — Se eu vacilar assim de novo, eles podem se machucar. — sussurrou para si mesmo.

    Suspirou incomodado, então focou sua atenção no caminho para o interior da caverna, tentando pensar em algo para se distrair, deixando com que a chuva fosse sua única companhia para o restante da noite.

    ...

    Gotas de água caindo sobre sua cabeça foi a primeira coisa que sentiu quando voltou a ficar consciente. O pequeno Pokémon rato estava péssimo, seu corpo estava incrivelmente cansado e dolorido e sentia suas entranhas se revirarem, causando uma sensação de mal estar muito desagradável. O pior momento foi quando tentou se mover e percebeu que não conseguia movimentar suas pequenas patas, era como se algo estivesse o prendendo. Lentamente seus olhos se abriram e sua visão foi ofuscada pela claridade do local. Quando seus olhos conseguiram se adaptar a luminosidade do ambiente, se deu conta de sua situação.

                    Seu corpo estava bem amarrado com um tipo de cipó que estava preso a algum galho mais acima, deixando-o suspenso no ar a uma pequena distância do chão. Quando olhou ao redor se deparou com três rostos nada familiares que o encaravam com expressões sérias. A esquerda um Starly, a direita um Riolu e no centro uma Chikorita.

                    — O que está acontecendo? — O Rattata juntou forças para falar.

                    — Vai falando, ratinho! — Neil tentou fazer sua melhor pose séria.

                    O Rattata franziu as sobrancelhas.

                    — Sobre o que?

                    — Sobre o ataque, ontem na caverna — completou Kiri.

                    — Que ataque? Não sei do que vocês estão falando! Vocês são malucos! Me soltem! — Ele começou a se agitar e balançar o corpo o mais forte que podia para tentar se livrar das amarras, mas não tinha energia o suficiente para tal.

                    — Não temos tempo para isso!

    Ativando o Metal Claw, Richard deu um passo adiante e fez o movimento de atacar o Rattata. O pequeno rato encolheu-se e fechou os olhos assustado, apenas para reabri-los e em seguida arregalá-los ao ver que a garra de metal parou poucos centímetros de sua cabeça.

    — Diga a verdade! — Exigiu o Riolu, sombrio.

                    — E-Eu juro! Eu não sei do que vocês estão falando! Quando eu tento me lembrar do que aconteceu antes de acordar aqui, tudo que eu me lembro é um grande breu! Não me machuquem por favor! — Suplicou por piedade.

                    O tipo normal ouviu o Riolu suspirar, e, em seguida um corte seco no ar acima dele o livrou dos cipós e o fez cair pelos poucos centímetros que o separavam do chão sem risco de se machucar. O Rattata deu uma última olhada no trio que havia feito um interrogatório consigo e correu para longe, provavelmente de volta pra caverna.

                    — Todos eles tão dizendo a mesma coisa! — Rick grunhiu em frustração. — Acho que estamos perdendo nosso tempo.

                    — Você tem razão — admitiu a Chikorita.

                    — Vou ver como o Elekid está. Quem sabe temos mais sorte.

                    Richard se afastou caminhando pelo chão úmido, castigado pela tempestade da noite anterior que deixou como herança um clima fresco e a natureza encharcada. Bastava uma brisa leve nas árvores para a água depositada em suas folhas finalmente chegar ao solo. Não muito tempo depois do sol raiar, o trio começou a trazer alguns dos Pokémon que os atacaram no dia anterior para o lado de fora com o objetivo de conseguirem informações para tentarem entender o que havia acontecido. O Rattata havia sido o quinto e ele apenas repetiu o padrão de resposta do restante: eles simplesmente não se lembravam do que aconteceu.

                    Apesar disso, não deixaram de cumprir o que lhes foi designado. A bolsa que Richard é responsável por carregar descansava pendurada em um galho de uma pequena planta próximo de onde Kiri e Neil estavam, cheia dos cristais luminosos. O Starly, que havia ficado algum tempo pensativo, soltou uma risada abafada e se virou para a amiga.

                    — Fomos atacados pelos Poochyenas, atacados na caverna, espero que isso não se torne um padrão.

                    Ela riu do comentário.

                    — Pelo menos estamos ficando mais fortes, eu me sinto mais forte.

                    Ele baixou o olhar e virou o rosto para o lado oposto dela.

                    — Sim, você é forte...

                    — Não se preocupa com o que aconteceu ontem, nós já falamos sobre isso.

                    — Sim nós já falamos, esse é o problema! Se acontecer de novo pode ser a última. — As memórias da batalha passavam por sua mente enquanto falava. — O Richard não é nem um Pokémon, tecnicamente falando, e ele lutou tão bem e foi tão focado. Queria ser como ele.

                    A expressão de Kiri se fechou em uma carranca.

                    — Não ouse ficar se comparando! — Encarava o Starly bem de perto. — Sim, você pode ter travado nessa batalha, mas você ajudou. Assim como ajudou muitas outras vezes antes! Você vai conseguir superar seu medo! E até lá eu vou estar do seu lado pra te apoiar quando precisar. Está bem? — Finalizou com um sorriso.

                    Neil tomou seu tempo para processar o sermão que recebeu, mas assentiu com a cabeça.

                    — Está bem, obrigado. — disse com confiança.

                    Quando o Riolu voltou à caverna, encontrou o Elekid sentado no chão com as costas encostadas na parede rochosa. O tipo elétrico conversava com alguns outros que pareciam ser conhecidos do mesmo, quando esses perceberam a aproximação de Richard, trocaram olhares e cochichos entre si, então deixaram o Pokémon amarelo sozinho com o azul. Rick caminhou até ficar em frente à criatura sentada, analisou-o de cima a baixo, parecia já ter recuperado boa parte de suas forças, apesar de ainda estar um pouco debilitado. Quando os dois se acostumaram com a presença um do outro, o Riolu decidiu quebrar o silêncio.

                    — Como se sente?

                    — Dolorido — admitiu, sua voz um pouco rouca —, mas bem.

                    Richard se sentou no chão em frente ao Elekid.

                    — Qual o seu nome?

                    —Sindri.

                    — Sou Richard, o que aconteceu ontem?

                    O Elekid tomou seu tempo para resgatar o máximo de detalhes do dia anterior que podia se lembrar, seus lábios se apertaram como se momentos não muito agradáveis tivessem vindo à tona.

                    — Eu saí, pouco antes da chuva, fui buscar algo pra comer antes que a tempestade viesse. No meio do caminho ela começou a cair forte e eu não tive muita escolha a não ser esperar. Quando eu voltei — Fez uma rápida pausa. — Quando eu voltei as coisas já estavam estranhas, tudo estava silencioso e eu não encontrava ninguém. Enquanto eu procurava fui atingido de surpresa, foram vários e vários ataques, então eu desmaiei.

                    “Isso explica uma parte, mas não tudo” foi o que Richard pensou em dizer, contudo, apenas guardou as palavras para si mesmo enquanto imaginava os acontecimentos em sua cabeça. Ele se levantou e estendeu a pata para ajudar Sindri.

                    — Lamento que tenha passado por tudo isso.

                    — Pelo menos vocês chegaram no tempo certo — disse evitando pisar forte com a perna direita —, não da pra prever o que poderia acontecer depois.

                    — Você não tem nenhuma ideia do que causou isso? Todos respondem que não se lembram de nada.

                    — Nenhuma — declarou com desânimo —, eles me disseram o mesmo

    — Tudo bem, obrigado por me contar o que pôde. — Richard sorriu amigável.

    — Vocês nos ajudaram muito também — retribuiu.

    — Se algo mais acontecer, mandem um pedido de socorro para a vila. Avisaremos a eles o que aconteceu aqui.

    — Entendido, eu agradeço.

    Richard acenou enquanto se distanciavam e rumou em direção a saída para se juntar aos seus amigos. Andava tentando encontrar em sua cabeça uma explicação para o que presenciaram no dia anterior, mas o quebra-cabeça tinha peças faltando e, portanto, não era possível visualizar a imagem completa.

    Já do lado de foram, ele contou aos outros o que o Elekid lhe disse. Neil suspirou ao final da história, entendendo que Rick não conseguiu muito mais do que já tinham.

    — Acho que é isso então, vamos embora.

    Kiri, que esteve reflexiva durante a explicação, enfim falou.

    — Algo ainda não está certo. Mas não sei dizer o que é.

    — Eu também tenho esse sentimento, mas não temos o que fazer. — Rick disse em seguida. — É melhor irmos e relatar tudo para a Ciara.

    Todos concordaram com a sugestão, então o grupo dividiu algumas tarefas entre si para se prepararem para a jornada de retorno. Richard foi conferir se estava tudo certo na bolsa, Kiri foi procurar comida e Neil levantou vôo para verificar se o caminho de volta estava bom para seguir, considerando a tempestade da noite anterior.

    Após ficarem prontos, tomaram a direção do caminho de volta. Sua missão podia ter terminado, mas o mistério persistia.

    Próximo capítulo >>>

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