quarta-feira, janeiro 15, 2020
Horas:Minutos
Dia/Mês/Ano
O som das gotas da fraca chuva que
caíam e acertavam as flores das árvores e traziam uma irregular, porém
agradável orquestra de ruídos, pelas poças d’água formadas no chão e a umidade
ambiente dava a entender que bastante água já havia chegado do céu por aquela
região horas antes. Relâmpagos surgiam nos céus de tempos em tempos, trazendo
sua luminosidade para a escura floresta que pouco tinha da luz da lua encoberta
pelas nuvens carregadas, além do trovão que vinha logo em seguida assustando os
mais distraídos. A relativa tranquilidade fora rompida por uma agitação em meio
à mata. Corria por entre os arbustos um Pokémon quadrúpede de pelo marrom que
alternava entre faixas de marrom claro e marrom escuro, possuía pequenas patas
e característicos pelos pretos em sua face, era um Zigzagoon. O pequeno
guaxinim estava com o corpo sujo de lama, além de alguns pequenos galhos e
folhas que se prenderam aos seus pelos, os músculos de suas patas já haviam
atingido a fadiga, sua respiração estava ofegante, mas ele continuava em frente
dando algumas olhadas para trás de tempos em tempos para ver se seus
perseguidores haviam perdido a trilha dele. Para seu azar, sempre que olhava
para trás continuava a ver as duas figuras na escuridão com apenas seus grandes
e brilhantes olhos vermelhos visíveis e pareciam estar chegando mais perto
conforme o tempo passava.
O medo e o desespero continuavam a
aumentar, lágrimas corriam pelos seus olhos quando relances de momentos que
haviam ocorrido pouco tempo antes do instante atual chegavam aos seus
pensamentos, porém mesmo sendo um pequeno filhote, esse tinha consciência de
que se parasse para pensar demais nisso acabaria sendo pego. Ao sair da parte
de mata fechada se viu encarando um grande paredão de rochas que era íngreme
demais para qualquer tentativa de escalada, ele olhou para os lados e não
encontrou um caminho viável para seguir, então quando se virou percebeu que
estava totalmente encurralado.
As duas figuras escuras, que eram
da mesma espécie, agora fora do matagal podiam ser vistas em sua totalidade. Se
tratavam de Pokémon que pareciam ser feitos de pelúcia com um tecido de cor
cinza, possuía grandes olhos vermelhos com a pupila negra no centro, em seu
rosto não havia uma boca e sim um zíper amarelo que estava fechado em um eterno
sorriso, eram dois Banette. Enquanto se aproximavam lentamente, soava dos
Pokémon fantasma uma risada cínica e seca, quase sussurrada, que assustava
ainda mais o pequeno Zigzagoon que recuou até sentir sua cauda tocar nas rochas
atrás dele. As criaturas aterrorizantes pararam poucos metros a frente do tipo
normal, o Banette que ficava a direita ergueu levemente o seu braço esquerdo,
então esse usou o Will-O-Wisp fazendo pequenas bolas de fogo de coloração azul apareceram
ao redor dele crepitando no ar, então todas elas foram na direção do Zigzagoon.
O guaxinim, com o que ainda lhe
restava de energia, desviou de algumas, mas outras conseguiram tocar a sua pele
causando fortes queimaduras, o pequeno Pokémon gemeu alto de dor, mal
conseguindo manter-se sobre as quatro patas.
— Por... Por favor... Não me
matem... — Implorou entre os soluços, as lágrimas voltavam a escorrer de seus
olhos, mas não parecia que seus perseguidores dariam ouvidos a qualquer palavra
que dissesse.
O Banette da esquerda levantou o
braço direito com o punho fechado e na posição de ataque, então rapidamente sem
que o menor tivesse tempo de reagir, o tipo fantasma se aproximou perto o
suficiente para atingir o golpe definitivo com um Feint Attack, o Zigzagoon
fechou os olhos, aceitando seu destino. Entretanto, no último instante outra
coisa acertou o Banette com bastante força pela lateral, fazendo com que o
fantasma caísse alguns metros adiante.
— Deixem ele em paz. — Aquele que
chegava aos 45 do segundo tempo era um Houndoom, Pokémon quadrúpede e canino,
seu pelo era quase todo preto com alguns detalhes em vermelho, possuía o que
pareciam ser chifres em suas costas e no seu pescoço além de um par deles em
sua cabeça, tinha uma cauda que era pontiaguda e rosnava ferozmente para
aqueles que tentaram atacar o Zigzagoon.
— Você e quem mais? — Pela primeira
vez um dos Banette falava, sua voz se parecia com centenas sussurros dizendo a
mesma coisa ao mesmo tempo.
Chamas começaram a emanar da boca
do cachorro, o Banette que falou anteriormente partiu para cima com outro Feint
Attack enquanto o que havia sido atingido preparava uma Shadow Ball, porém o
Houndoom foi mais rápido e conseguiu se desviar do primeiro ataque e
contra-atacá-lo logo em seguida, ao invés de fogo, faíscas elétricas emanavam
de sua boca então o mordeu com o Thunder Fang. O tipo fogo manteve a mordida e
usou o corpo do oponente para se defender da bola negra de energia disparada
pelo outro Banette, então o arremessou de volta para perto do parceiro. Outra
vez chamas emanavam da boca do Houndoom e dessa vez foram seguidas de uma
poderosa rajada de fogo que engoliu os fantasmas totalmente, era um Inferno.
Quando as chamas se dissiparam, tudo o que dava para ver era uma faixa de grama
queimada que dava até os dois Banette caídos e aparentemente inconscientes.
— Garoto... Uh?! — Quando voltou
seu olhar para o Zigzagoon viu que esse havia desmaiado pelas queimaduras,
então passou o focinho por baixo do corpo dele para colocá-lo em suas costas e
abandonou aquele lugar que havia sido o campo de batalha.
...
A chuva
agora caía forte sobre a região, praticamente todos os tipos de Pokémon
buscaram algum abrigo para não ficarem encharcados na tempestade, os
relâmpagos, no entanto, continuavam da mesma forma, vindo de tempos em tempos
clareando o céu e a terra. Em algum lugar naquele meio uma fraca luz emanava de
uma caverna ao pé de uma das muitas montanhas presentes naquela área, pelo seu
interior ficar um tanto acima do nível do chão não ocorria o risco da água
entrar e apagar a pequena fogueira em que o Houndoom e o pequeno Zigzagoon se
aqueciam ao redor, o segundo que permanecia desmaiado, possuía algumas folhas
coladas ao seu corpo que foram usadas para cobrir uma pasta de frutas Rawst
amassadas que o maior utilizou para tratar das queimaduras do guaxinim. Um
forte estrondo de um trovão fez com que o pequeno despertasse.
— Ainda está
doendo? — Perguntou o cachorro de pelos negros, deitado no chão, encarando a
completa escuridão que era o lado de fora da caverna.
— Sim...
— Qual o seu
nome?
— Ci...
Cimon.
O Houndoom
arrastou algumas frutas para perto dele que começou a comer sem hesitar.
— De onde
você veio, Cimon?
— Eu estava
vindo da Vila do Norte com a minha família, estávamos no meio da floresta...
Daí aqueles Pokémon chegaram e... — A voz dele enfraqueceu, seus olhos
começaram a lacrimejar, então sentiu a pata direita do tipo fogo acariciando
sua cabeça.
— Está tudo
bem garoto, você está seguro agora.
Cimon fechou
os olhos, pôde ser visto uma lágrima escorrendo pelo seu rosto, então ele
voltou a comer uma das frutas. O ambiente seguiu silencioso por um tempo,
podendo ser ouvido apenas o som da chuva.
— Senhor...
Uh...
— Albus.
— Senhor
Albus, por que essas coisas estão acontecendo?
— Olha
garoto, vou ser sincero com você. — Albus encarou o Zigzagoon nos olhos. —
Guerra é uma coisa que só pensei que existiria entre os humanos.
— Mas por
que ta tendo guerra?
— O que eu
sei é que tem gente ruim lutando por coisas ruins.
— Lá tem os
bonzinhos também né?
— Talvez,
mas no meio de uma guerra não é como se fizesse diferença quem é bom e quem é
ruim.
— Ah...
O ambiente
voltou a ficar quieto.
— Você é
forte e me salvou, por que não vai ajudar?
— Boa
pergunta... — Ele soprou as chamas da fogueira para que ficassem maiores. —
Melhor você ir dormir, eu vou ficar de vigia.
Um forte estrondo de outro trovão
ecoou pela caverna, o pequeno Cimon assustou-se e se encolheu próximo ao
Houndoom.
— Não se preocupe, a tempestade vai
passar logo.
O Zigzagoon
se acomodou junto a Albus que não ficou muito satisfeito com isso, mas acabou
permitindo que o menor ficasse próximo a ele por ser tão novo e ter passado por
tanta coisa ruim nas últimas horas. Ao perceber que Cimon havia dormido apagou
a fogueira para não chamar mais a atenção e deixou apenas o calor do próprio
corpo de Pokémon tipo fogo aquecer o companheiro, depois de algumas horas nem
mesmo o cachorro aguentou permanecer desperto e acabou caindo no sono também.
...
Pouco depois
do nascer do sol Albus despertou e então acordou Cimon para poderem partir e
seguir a viagem, pois segundo ele, durante o dia as coisas são mais agitadas e
seria perigoso continuarem por aquela região por muito tempo. O dia amanheceu
sem chuva, o céu estava parcialmente nublado, porém ainda bastante cheio de
nuvens e com uma ou outra mais escura, os sinais da tempestade da noite
anterior por todo lugar que você olhasse, uma simples brisa em uma árvore
criava um chuveiro pela água que ficara armazenada sobre as folhas. O Houndoom
deu algumas regras para o Zigzagoon antes de partirem.
— Não fale ao menos que
extremamente necessário. Evite fazer ruídos, por isso cuidado onde pisa. Se eu
mandar fazer algo, obedeça. Andaremos a favor do vento. — Foi o que ele disse.
Assim seguiu-se uma jornada com
silêncio e cautela, às vezes Albus parava para sentir o ar, ouvir, mas sempre
mantendo o curso e evitando serem lentos demais durante a caminhada. Muito se
passava pela cabeça do pequeno Zigzagoon, apesar das queimaduras terem
melhorado, as marcas ainda estavam lá tanto fisicamente quanto
psicologicamente, o pequeno havia vivido os piores momentos de sua vida nas
últimas horas e só estava vivo por que Albus apareceu no momento certo. Outros
certamente não haviam tido a mesma sorte. Passaram-se cerca de duas horas
viajando nesse ritmo silencioso, porém bem eficiente, conseguindo cobrir uma
boa distância sem correrem grandes riscos, mesmo que Cimon às vezes tropeçasse
em algum galho resultando em resmungos mentais do Houndoom. Após o maior
averiguar que já estavam longe o suficiente de onde passaram a noite anterior,
a dupla parou para descansar debaixo de uma árvore baixa cuja suas folhas quase
tocavam o chão, dificultando a possibilidade de serem avistados.
— Essas coisas que você me disse
para fazer... — O Zigzagoon puxou assunto, atraindo a atenção de Albus. — O
papai disse coisas parecidas quando saímos de casa.
— Lamento por ele... Deve ter sido
um grande Pokémon.
— Ele era. — Abaixou a cabeça e
ficou em silêncio por alguns minutos. — Senhor Albus, pra onde estamos indo?
— Para a Vila do Leste. — Indicou
com o focinho a direção que iriam tomar em seguida. — Não é o ideal, mas é o
lugar seguro mais próximo daqui.
— Entendo...
— Bem, vamos indo. —Ele se levantou
e saiu do meio das folhas. — Temos um longo caminho pela frente.
O avanço silencioso da dupla seguiu
por mais uma hora, a partir desse ponto pode-se notar que a vegetação foi
ficando mais escassa, a grama e o mato deram lugar à areia, o clima fresco e
úmido de uma floresta pós-chuva foi substituído por outro quente e seco. O
Houndoom aparentemente pouco sentiu a mudança de ambiente, porém o Zigzagoon
ficou cansado bem mais rapidamente do que andando pela floresta.
— Queria um pouco d’água...
— Estamos perto, já consigo ver um
pouco da Vila daqui.
Conforme os dois foram se
aproximando a Vila do Leste pode ser observada com mais detalhes, grande parte
das casas possuíam formatos cônicos, feitos de uma mistura de areia, argila,
pedras e palha, sua aparência dava a entender que parte do chão havia se
erguido e se transformado em lugares para os Pokémon dali viverem, além disso
haviam várias barracas e algumas poucas construções feitas de madeira.
Ao
adentrarem se depararam com uma situação nada agradável, dentro das barracas e
de algumas tendas montadas de formas improvisadas com recursos encontrados no
deserto e na floresta próxima, haviam vários Pokémon feridos caídos no chão
enquanto outros andavam em meio a eles para ajudar a tratá-los usando ervas e
frutas e também movimentos como Heal Pulse e Heal Bell. Algumas casas tinham
sinais de destruição que Pokémon como Geodude e Sandshrew ajudavam a reparar, a
impressão que passava é que a Vila havia sido um campo de batalha há pouco
tempo.
— Isso é o
que a guerra trás, Cimon. — Albus falou baixo para o Zigzagoon, a expressão do
pequeno era de muita dor.
Em uma
simples construção de madeira bastante rústica pode-se ver vários Pokémon
filhotes correndo e brincando entre si do lado de dentro, era exatamente o que
o Houndoom procurava. Á frente da construção havia uma Pokémon de costas para a
dupla que parecia ser quem estava tomando conta dali, quando esta se virou e
avistou o canino, o tipo fogo freou seu caminhar.
— Albus?! —
A Pokémon possuía estar usando um tutu, a parte de cima de seu corpo era branca
e na altura da cintura formava o que parecia um vestido enquanto a parte de
baixo era verde, na sua cabeça tinha dois pequenos chifres vermelhos se
destacando em seus volumosos cabelos esverdeados que cobria um de seus olhos
também vermelhos. Os olhos da Kirlia se encheram de lágrimas enquanto a Pokémon
corria para abraçar o Houndoom. — Eu pensei que você tinha morrido!
— Mi...
Mila... — Pela primeira vez Cimon viu o parceiro com uma expressão diferente de
sua usual cara séria e centrada que passava certa imponência, agora Albus
estava de olhos arregalados e boquiaberto. —Eu também pensei que você...
— As tropas
inimigas não nos alcançaram na fuga, conseguimos chegar aqui. — Ela olhou-o nos
olhos e então enxugou as próprias lágrimas, notou a presença do pequeno
Zigzagoon. — E quem é você, garotinho?
— Cimon.
— Estavam
atrás dele na floresta, atacaram um filhote indefeso... Isso é loucura. — Não
pode deixar de sentir raiva ao lembrar dos acontecimentos da noite anterior. —
Mila eu preciso que você cuide dele por mim.
— Claro, ele
pode se juntar aos outros. — A Kirlia se aproximou de Cimon e acariciou-o na cabeça
então indicou a entrada do estabelecimento para ele ir se juntar aos outros
filhotes. Voltou sua atenção para Albus. — Mas e você?
— Eu não
sei, eu não posso voltar pra lá. Não depois de... — O Houndoom calou-se ao
sentir a mão de Mila acariciando a lateral de seu rosto.
— Você é
forte Albus, mais forte do que a maioria deles. Por isso eles...
O cachorro
pode ver um brilho alaranjado refletido nos olhos assustados da Kirlia, ele
rapidamente se virou e pôde ouvir o som que parecia ser uma explosão vinda da
direção pela qual havia entrado na vila.
— Aquele
lugar... Está cheio de feridos!
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Oeee, Lucas! Li seu especial e agora estou oficialmente e totalmente atualizada em todas as fics.
ResponderExcluirO pobre Zigzagoon perdeu a família, isso é mto triste. Tipo, nas guerras eles n tem capacidade de poupar nem as crianças. Ainda bem que o Albus apareceu, ele também parece ser um personagem com um passado bem triste.
E é a primeira vez que entramos em contato com outras vilas, como será que esse local está hj? Será que foi destruído? Será q os protagonistas vão para lá algum dia?
O cap ficou bem legal, tomara que hajam mais desses capítulos sobre a guerra pra gente saber mais sobre.
Abraços e até a próxima!
Não, fiz um comentário e sem querer sai da página aaaaa droga.
ResponderExcluirOiii Lukkas!
Okay, primeiro, gostei da interação entre o Albus e o Cimon. É aquela dinâmica de "pai e filho" em que as vezes o mentor e rude e essas coisas, mas Albus é gente fina e eu gostei bastante dele.
Banette ia atacar um Pokémon normal com um golpe fantasma, ainda bem que o Albus o impediu de cometer essa gafe. O acertando com uma voadora, sim, mas ele não passou vergonha, sø apanhou.
Tá rolando uma guerra, deixa eu ver um possível motivo... Assim, como o Albus disse, achei que sø humanos fizessem guerra, então o único motivo que chego a pensar é por comida, então vamos ver o que vai ser.
aliás, essa história se passa antes da main ou depois. Eu acho, ja que não foi falado nada disso nos outros capítulos, não que eu me lembre agora.
E é isso. Até mais, Lukkas!
Rapaz me desculpa, só vi que tu tinha especial quando estava fazendo a tabela de controle, bem, pelo menos estou aqui.
ResponderExcluirFala Lukas, como você está?
Wow guerra por toda parte, as vezes imagino que os pokés são pacíficos uns cons os outros, mas eles 'gostam' de lutar, por isso existe os treinadores.
Num mundo sem humanos é claro que haveriam guerras, gostei da maneira que tu retratou o lado trágico do conflito.
Obrigado pelo capítulo e até a próxima!